quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Marqueteiro do PT admite ter recebido recursos da Odebrecht no exterior


CURITIBA — O marqueteiro João Santana admitiu, em depoimento prestado na manhã desta quinta-feira à Polícia Federal (PF), ter recebido recursos da Odebrecht e de Zwi Skornicki em conta não declarada no exterior. Ele seguiu a mesma linha do depoimento de sua mulher, Mônica Moura Santana, que também confirmou os pagamentos. A força-tarefa da Lava-Jato investiga se os depósitos feitos saíram do contrato da Petrobras para a plataforma P-52 ou de sondas fornecidas pela Sete Brasil. Também nesta quinta-feira, o juiz Sérgio Moro renovou a prisão temporária do marqueteiro e da mulher dele, que estão presos na carceragem da PF em Curitiba onde devem permanecer até o final da semana que vem.
— Ele abriu esta conta em 1998 para receber recursos de uma campanha realizada na Argentina. Foi a forma que ele tinha de receber. Na época, achava que não tinha problema (deixar de declarar no Brasil), porque eram recursos recebidos em outro país — disse o advogado Fábio Tofic, que atribuiu os pagamentos a dívidas referentes a serviços prestados fora do Brasil, em países como Panamá e Angola.
Segundo ele, os US$ 4,5 milhões depositados por Zwi Skornicki, operador de propinas para o estaleiro Keppel, são referentes a uma “doação ao partido angolano”, realizada por meio de Skornick.
— Era uma dívida antiga. Nessa área de marketing eleitoral, você demora para receber recursos. Ela (Mônica) disse que tinha este valor a receber, que cobrava insistentemente, e que foi informada de que deveria buscar este rapaz (Zwi Skornicki).
O depoimento durou cerca de três horas, menos do que o da mulher de Santana, na tarde de quarta-feira, que durou quatro horas. Uma das estratégias de defesa do marqueteiro será tentar se desvincular de questões financeiras de serviços prestados por suas empresas, sob o argumento de que cuidava apenas do trabalho de criar campanhas.
Nesta quinta, Toffic confirmou a estratégia, ao dizer que Santana não tomava conhecimento dos problemas relacionados a pagamento por serviços prestados.
— O João não sabia disso, ele é um criador, não trabalha com questão financeira e bancária. Tinha pouco conhecimento de como eram feitos pagamentos – afirmou.
O defensor disse que o marqueteiro chegou a classificar a conta da empresa Shellbil, usada para receber os US$ 7,5 milhões, como um “tormento”.
— Quem recebe recursos e dinheiro de trabalho honesto, quer receber de forma transparente e regular. Infelizmente, esse é um vício que ainda permanece em alguns países, no Brasil, não – afirmou o advogado, que disse não caber ao marqueteiro “realizar ampla investigação" sobre a origem do dinheiro usado para pagar seu trabalho.
O advogado informou que Santana e Mônica pretendem regularizar junto à Receita problemas detectados na movimentação financeira de empresas em seu nome. Ele promete regularizar a situação da offshore Shellbil, sediada no Panamá e usada por Santana para receber os recursos investigados.
FORÇA-TAREFA SUSPEITA QUE DINHEIRO SEJA PROPINA AO PT
A força-tarefa da Lava-Jato investiga se os depósitos feitos pelo operador Zwi Skornicki na conta do publicitário na Suíça saíram do contrato da Petrobras para a plataforma P-52 ou de sondas fornecidas pela Sete Brasil, empresa que tinha a estatal como sócia. O operador depositou US$ 4,5 milhões ao marqueteiro do PT. Para os investigadores, a ordem para depositar ao marqueteiro pode ter saído do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que administrava a propina destinada ao partido.
Segundo o delator Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, Zwi Skornicki comentava que conversava diretamente com Vaccari. Em depoimento prestado no mês passado, Barusco afirmou que Skornicki e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque comentaram que o operador "havia pago cerca de US$ 4,5 milhões adiantados para Vaccari". O valor exato da propina era US$ 4,523 milhões, próximo ao depositado ao marqueteiro do PT. O delator lembrou que a Sete Brasil foi criada na gestão de Duque à frente da diretoria de Serviços da Petrobras e que o PT "tinha interesse em receber nos contratos gerados pela Sete Brasil", tendo sido combinado com João Vaccari Neto que o partido ficaria com dois terços do valor das comissões.
Além de Santana, também presta depoimento nesta quinta o preso Vinícius Borin. Ele é o representante no Brasil do Antigua Overseas Bank, instituição financeira de Antigua e Barbuda onde duas offshores ligadas a Odebrecht – a Klienfeld e a Innovation Research - mantinham recursos que foram usados para pagar propina, de acordo com a PF.
Ainda está previsto para a tarde desta quinta-feira o depoimento de Maria Lúcia Tavares, funcionária da Odebrecht responsável por editar um planilha localizada pela PF na empresa com menções a pagamentos para "Feira" (João Santana), "JD" (José Dirceu) e "Prédio (IL)" (possível menção a edifício que Lula pretendia construir com apoio de empreiteiras, segundo a PF).
O casal foi preso na terça-feira, durante a 23ª fase da Operação Lava-Jato. Santana e a mulher estavam na República Dominicana e foram presos por policiais federais assim que desembarcaram no Aeroporto de Internacional de São Paulo, em Guarulhos. No mesmo dia, foram transferidos para a carceragem da PF, em Curitiba. A prisão dos dois é temporária e vence no sábado.

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